Queres mesmo desfrutar das tuas relações? Anterior Acreditas em ti? Próximo Não! Não tens de ir a lado...

Primeiro passo: aceitar

Eu acredito que as relações são o maior desafio que experienciamos e, sem dúvida, o maior palco de aprendizagem neste planeta.

Tive a sorte de nascer numa família cheia de amor e carinho. Tive a sorte de viver de perto com a mesma até aos dias de hoje.

Nesta última fase mais madura da minha vida tive a oportunidade de partilhar um projeto profissional com o meu pai. Achei que seria uma oportunidade maravilhosa de juntar o laço familiar ao prazer do desafio profissional. Gosto de desafios profissionais e gosto ainda mais de aventuras e de me sentir vivo.

A coisa não correu bem. E dei por mim a discutir “dia sim – dia sim” com o meu pai. Depois as discussões tornaram-se mais “momento sim – momento sim”. Impossível de aguentar. Claro que eu achava que tinha razão como sempre achamos quando discutimos com alguém.

A relação foi-se deteriorando e apenas a presença de um grande amor de Pai-Filho e Filho-Pai, que nos obriga a pensar duas vezes ou 150 vezes, segurou esta relação até ela ser salva. Como?

Um dia decidi que não ia mais alimentar isto, embora soubesse que era mais forte que eu, estava determinado. O meu caminho de crescimento pessoal e aprendizagem permitiu-me perceber que tudo exterior a nós é um reflexo do que está vivo dentro de nós. Isto não é novidade.

Mas de que forma?

Percebi, após meditar no assunto e resolver “aceitar” o mesmo e transportá-lo para a esfera da minha responsabilidade, que a solução estava em mim. Percebi que aquela raiva e nervos que as discussões com ele despoletavam em mim eram apenas o reflexo do que estava vivo em mim naquele tempo. Então resolvi extrair de todas essas histórias com o meu pai apenas o sentimento – extraí apenas a raiva, os nervos e o cansaço.

Como trouxe isso para mim e, aceitando que esses sentimentos estavam vivos em mim, fui à procura do que estava mais por detrás disso, mais fundo. Descobri que estávamos os dois no negócio porque era interessante e queríamos fazer algo juntos e não porque éramos apaixonados pelo negócio. Mas descobri mais, fui mais fundo que isso. Descobri que eu estava a tentar que o meu pai fosse aquilo que eu queria que ele fosse, em vez daquilo que ele realmente era, é e continuará a ser.

Quiçá nas relações, em todas elas, as discussões surgem, as deceções chegam e tudo se deteriora porque “culpamos” os outros. Colocamos nos outros a “culpa e a responsabilidade” quando não há culpa e a responsabilidade é só nossa. Pensarmos que a culpa está nos outros e que as coisas acontecem por causa dos outros é o primeiro e o grande erro das relações.

Vamos assumir que é a nossa vida, os nossos pensamentos e consequentemente as nossas perceções e sentimentos condizentes.

Sendo assim e, norteado por estes princípios, resolvi parar e comecei a ver o meu pai como uma pessoa diferente e, como todas, muito especial e de grande valor. Diferente de mim e como tal com opinião própria, com valores e filosofia próprios. Comecei a apreciar a diferença em vez de procurar a igualdade. Comecei a admirar a sua forma de ser em vez de procurar impor a minha forma de ser.

Isto mudou completamente tudo. As discussões desapareceram e a empresa também. Mas não faz mal, ganhei uma nova relação, muito melhor. Hoje há paz e amor apenas e desfruto ao máximo da relação. Que maravilha. Perdi um rival, ganhei um amigo.

Vamos à prática

Eu acredito que todas as relações existem para experienciarmos algo, quer sejam Pais e Mães, filhos, amigos, companheiros, amigos, colegas ou outros.

Temos duas hipóteses distintas:

Podemos ir à procura de mudar o outro, impor a nossa pretensa razão, procurar que o outro nos alimente o ego nessa relação e esperar a desejada aprovação, reconhecimento e apreciação. Tudo falta de amor próprio.

Ou podemos saber e sentir que somos todos diferentes e que em cada uma dessas relações há algo mágico para aprender e evoluir, há algo para apreciar, há algo para saborear como distinto de nós, mas que constitui na essência um desafio para nós e uma parte de nós que ainda não aceitamos.

Assim, hoje tento cada vez mais saborear as relações e isso para mim traduz-se em saber que não tenho que mudar nada no outro, estar atento aos sentimentos que essas relações despoletam em mim, trazer para a esfera da minha responsabilidade o reflexo desses sentimentos sabendo que tudo isso é meu, não reagir, interiorizar e aceitar tanto o bom e maravilhoso como o mau e o exigente.

Desta forma, não reagindo, lendo o sentimento que reflete, aceitando e integrando em mim, torno-me responsável, não pelos outros, mas por mim. Aprendo, evoluo, integro, aceito, desfruto e torno-me cada vez mais responsável pelas minhas emoções e sentimentos porque estas vêm do que penso, sempre.

Vamos lá tentar isto. Vamos deixar de tentar mudar os outros e culpá-los e vamos apreciar a diferença e aprender com ela lendo os reflexos.