Desde pequenos vivemos guiados pela e em procura da verdade.
“Mentir é feio e é pecado” dizem-nos. Depois crescemos e criámos uma fronteira que considerámos ser “para cá é verdade”, “para lá é mentira”, embora uma “pequena mentira não prejudique” e até pode ajudar. Nesta fronteira sem fórmula ou desenho cada um cria a sua verdade e a verdade sobre os outros.
À medida que ganhámos maturidade começamos a sentir que a verdade é o único caminho. Todas as religiões advogam isso, todas as filosofias apregoam isso, e nós mesmos, no nosso amago, sentimos isso.
Contudo, no dia-a-dia, e perante contextos específicos “esbarrámos” na certeza do conceito e do seu entendimento e aquilo que para mim é verdade, para o outro não. Mas como é possível? Está-se mesmo a ver, então não é bom? Então não é mau? Então não queres ver a verdade, “estás cego?”, dizemos…
A grande questão é: Há apenas uma verdade? E essa mantém-se no tempo?
Eu diria que a verdade depende de muitos fatores como a raça, a geografia de nascença e de vivência, a educação parental e familiar, as experiências de vida, as interações sociais, as crenças e valores sociais, a personalidade e tanto mais.
Uma música é boa ou má? Depende de quem ouve e de quando ouve e até a mesma pessoa pode passar de indiferente, a adorar e a nada lhe dizer perante a mesma música.
O jogador A ou B jogou bem? Hoje está um dia bonito? Aquela pessoa é boa pessoa? Aquele carro é lindo? Aquela casa é moderna? A água do Mar está boa?
Tudo isto tem várias verdades, tantas quantas as opiniões que forem emitidas…
Então onde fica a verdade, essa “coisa” tão importante para nós e pela qual tantas vezes lutámos, berrámos, gritámos, zangámo-nos, protestámos e até… Matámos em nome de!!
Eu diria que não há nada como a Verdade Absoluta, que toda a verdade é subjetiva.
Eu diria que só há a verdade de cada um e assim há tantas verdades quantos somos.
Eu diria, como disse um famoso ex-presidente do meu clube de futebol, o que hoje é verdade amanhã pode ser mentira…
Dentro desta linhagem, há, na minha opinião, cinco formas de coabitar bem com a verdade:
– Diz a tua verdade a ti próprio acerca de Ti.
– Diz a tua verdade a ti próprio acerca do Outro.
– Diz a tua verdade acerca de Ti ao Outro.
– Diz a tua verdade acerca de outro ao Outro.
– Diz a tua verdade a todos sobre tudo.
Acima de tudo, diz a tua verdade, mas imbuída de um espirito de paz e compaixão.
Assim, talvez possamos “viver na verdade”, mas com uma atitude muito mais aberta e flexível e amanhã dentro de casa, no café ou no trabalho possamos coabitar bem com a verdade dos outros e a nossa sabendo que há espaço para todas onde cabe a paz e a compaixão.
Talvez com a honestidade de dizermos sempre a nossa verdade sabendo que ela não é única e prescindindo da necessidade de ter razão, possamos viver num mundo com muitas verdades e quiçá todas certas.
Talvez com este conceito de verdade deixemos de julgar e passemos a observar e desfrutar.
Qual é a tua verdade?